Gregos - o verdadeiro conceito de beleza e força


 Sempre que eu ando pelas ruas  me dou conta de que a humanidade caminha para o caos. Lixo pelas ruas, baforadas de tabaco tóxico na sua cara, pessoas que não se importam em melhorar o lugar onde vivem. Não se importam em melhorar nem a si mesmas.

Sarcasmo, cinismo, brigas, porrada, baladas, fumaça. Carl Sagan, em sua brilhante obra Bilhões e Bilhões, já nos alertou para o caos que vai ficar o planeta com superpopulação e poluição. Nunca tivemos, em 4000 anos de civilização mais de 2 bilhões de habitantes. Nos dois últimos séculos, ironicamente, graças a força do intelecto humano, a população triplicou.

O ser humano continua se multiplicando. Ao contrário dos gregos que construíam templos, ginásios, bibliotecas e se esforçavam para superar os limites do corpo humano em beleza e força a humanidade hoje se multiplica como um bando de ratos. Favelas vão crescendo com esgoto a céu aberto. Nenhuma cidade é mais planejada. Todas crescem desordenadamente. Ouro Preto que já foi uma bela cidade colonial hojé está cercada com uma periferia imunda. Nas favelas os bailes funks, a pancadaria, a sexualidade explícita. Você já viu alguém ser espancado? Eu já, vi um garoto ser espancado até a morte em Guarapari-ES.Não há sentido nas brigas. Não há honra. Não há nada, somente o vazio. E sabe o que é pior? As pessoas se orgulham de terem batido em um pobre coitado desavisado que ficou na frente de algum babaca disposto a tirar a vida de alguém a troco de nada. O pior é que eles atacam como chacais, em bando, chutam a pessoa já desmaiada no chão. O hedonismo exacerbado é apenas uma outra face desse desespero, desse vazio moral.

Os gregos por outro lado tinham um conceito diferente de civilização e educação. De acordo com o brilhante estudo de Werner Jaeger o termo Paidéia significa a própria cultura construída a partir da educação. Era o ideal que os gregos cultivavam do mundo, para si e para sua juventude. Uma vez que o governo próprio era muito valorizado pelos gregos, a Paideia combinava ethos (hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado quanto como governante. O objetivo não era ensinar ofícios, mas sim treinar a liberdade e nobreza.

O espírito grego - sobretudo o espartano - elevou a humanidade a um nível de dignidade sem precedentes, ao mesmo tempo em que lhe atribuiu a responsabilidade de criar seu próprio destino e ofereceu um modelo de vida harmonioso, num espírito de educação integral para uma cidadania exemplar. Esses valores, junto com sua tradicional associação de Beleza com Virtude, encontraram na escultura do período Clássico, com seu retrato idealizado do ser humano, um veículo particularmente apto para expressão, e um eficiente instrumento de educação cívica e ética, bem como estética. 

Os homens criam as ferramentas e as ferramentas recriam os homens, disse certa vez Marshall Mcluhan. Algo semelhante disse Nietzsche em O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música: o grego antigo criou os deuses do Monte Olimpo e os deuses do Monte Olimpo recriaram o grego antigo. No entanto, em nossa era, as ferramentas e o excesso de informação parece dispersar o homem. Poucos usam a tecnologia disponível para melhorar a si mesmo. A maioria das invenções servem à alienação, ao vício ao niilismo. O homem moderno parece dependente do ansiolítico, da nicotina, da pasmaceira na TV.

Nossas escolas, dois mil e quinhentos anos depois decaíram amargamente. O que era antes ensinado ao ar livre, hoje não passa de uma cartilha confeccionada pelo Estado e divulgada em salas obscuras. A arquitetura escolar  assemelha-se ao cárcere. Perdemos a poesia, a força inspiradora dos mitos... restou em seu lugar o racionalismo pragmático e o materialismo.


Se a humanidade estivesse em expansão mas construindo indivíduos que tivessem como meta a superação, que se dedicassem à arte, ao esporte, como nos ensinaram os gregos ou mesmo tivessem como horizonte o bem ao próximo com o amor incondicional que nos foi legado por Jesus Cristo. Mas parece que quanto mais conhecimento acumulamos, quanto mais a ciência nos permite levar vidas confortáveis, mais o homem se acomoda. Infelizmente, apenas uma pequena minoria se dispõe a lutar o bom combate como propôs Paulo ou adotar para si a Paidéia dos gregos. Afinal, ainda hoje celebramos as olímpiadas: a união dos povos e a superação de limites.

Apesar da propaganda da Coca-cola dizer que os bons são maioria eu não acredito nisso. Vejo todos os dias garotas descontentes com sua aparência e condição social que engravidam aos 14 anos e dão início a um ciclo sem fim de nascimentos e frustração. O corpo dela muda, a criança nasce igual a ela: pobre, sem oportunidades, sem educação. Ao invés de incentivá-la a mãe e o pai descontam nas crianças suas frustrações. Não dão as mínimas condições materiais e espirituais para que elas possam crescer. Algumas conseguem superar essa condição, e eu as admiro. Mas a maioria segue o curso, parindo filhos anualmente. Enchendo o planeta com funkeiros que sentem prazer em quebrar uma muda de árvore recém plantada, que tem satisfação ao presenciar uma briga covarde, que se regorzijam ao acertarem alguém pelas costas em um baile qualquer.

As vezes eu não vejo sentido na expansão da humanidade. Já somos 7 bilhões de habitantes às custas do mundo selvagem. Florestas reduzidas, biodiversidade ameaçada, rios imundos e, o que estamos deixando no lugar?