Não basta apenas se matricular na academia. Para muitos, além de roupas, calçados e acessórios fitness, os suplementos alimentares são itens essenciais na nova rotina de atividades físicas. Cada dia mais populares, as opções são muitas e vão desde os que auxiliam no ganho de massa muscular até os milagrosos “shakes”, que prometem emagrecimento rápido e desintoxicação do organismo.
Teoricamente, suplemento é um produto composto por um concentrado de nutrientes que tem por finalidade complementar uma necessidade ou déficit nutricional. No entanto, ao contrário do que a maioria pensa, tais produtos nem sempre estão relacionados a um bom desempenho da atividade metabólica. Segundo especialistas, se usado de forma indiscriminada, podem mais atrapalhar do que ajudar. Também diferente do que acredita a maioria dos “atletas de academia”, nem todos realmente necessitam utilizá-los como fonte energética.
Para a nutricionista e pós-graduanda em nutrição clínica e desportiva Letícia Mota, antes de começar a fazer uso dos suplementos, é preciso estar atento às necessidades individuais. “Uma pessoa considerada normal, que malha durante uma hora, entre três ou quatro dias por semana, não necessariamente tem que usar suplementos. Em muitos casos, a melhora do rendimento e da recuperação do exercício pode se dar a partir de um plano alimentar bem elaborado, respeitando refeições distribuídas ao longo do dia e a ingestão de nutrientes como carboidratos, proteínas e gorduras”.
Ainda de acordo com a profissional, se a alimentação tradicional não for respeitada, a suplementação não dará resultados. “Neste caso, podemos dizer que a pessoa estará jogando dinheiro fora ao comprá-los. Sozinhos, eles não trarão benefícios. O suplemento é simplesmente uma complementação ao que você consome no dia a dia e jamais deve ser utilizado na substituição dos nutrientes dos alimentos. Isso pode causar excesso ou déficit de alguma substância vital para o funcionamento do organismo”.
Com novas opções de profissionais na área nutricional em Juiz de Fora nos últimos anos e de academias que passaram a oferecer este tipo de consultoria, o conselho de Letícia é que os praticantes de atividades físicas busquem orientações antes de decidir ingerir qualquer substância por conta própria.
Quem deve, de fato, usar suplementos?
Se para pessoas consideradas “normais”, que têm uma ficha leve na academia, o uso de suplementação pode não ser tão essencial assim, para outras os nutrientes industrializados podem fazer diferença. É o caso de atletas profissionais, como a equipe de vôlei da UFJF, orientada pela nutricionista clínica e desportiva Mary Tabet. “Em se tratando da prática esportiva intensa, com cargas de treino altas, durante várias horas por dia, só a alimentação não garante a reposição energética no organismo”.
Defensora da utilização da suplementação, desde que de forma adequada, a profissional não descarta a indicação para pessoas que praticam atividades menos exigentes. “Em alguns casos, pessoas que malham uma hora por dia, durante quatro dias por semana, também até podem consumi-los. Mas com estudo da atividade física praticada e das suas demais rotinas do dia a dia. Nada impede uma reparação com whey protein (proteína do soro do leite), por exemplo. Mas sempre obedecendo às variações de organismo para organismo.”
Para ela, o grande ponto negativo dos suplementos não está necessariamente nas substâncias em si, mas na compra e venda indiscriminada em lojas e farmácias: “Na verdade, hoje o suplemento vende milagre. O consumidor acha que ele faz emagrecer, ganhar músculo, de forma instantânea. Isso é preocupante, porque às vezes a pessoa usa vários tipos de suplementos sem nenhuma necessidade”.
Um outro estímulo para a compra dos produtos pode ser a influência de amigos e até mesmo de preparadores físicos. “Infelizmente, esse tipo de indicação é muito comum. Como hoje muitas academias oferecem a possibilidade de acompanhamento nutricional, o melhor caminho é fazer uma avaliação multidisciplinar, consultado também o nutricionista. Uma pessoa que trabalha o dia todo e malha à noite, por exemplo, não necessariamente vai precisar usar suplementação caso receba uma boa orientação do que ingerir antes e depois da atividade”.
Riscos da suplementação inadequada
Para a nutricionista Letícia Mota, além de não ter todos os nutrientes na mesma biodisponibilidade que uma alimentação equilibrada dispõe para o organismo, o excesso de suplementos é prejudicial, principalmente para os órgãos responsáveis pela digestão, metabolismo e excreção dessas substâncias. “A superdosagem muitas vezes é adotada com a prerrogativa de que “quanto mais melhor”, mas o corpo humano não trabalha dessa forma. O uso de altas doses de suplementos a base de proteína, por exemplo, sobrecarrega o fígado e os rins podendo resultar em sérios riscos ao funcionamento desses órgãos como falência, formação de cálculos e tumores, além de um inconveniente estético, pois o excesso desse nutriente não absorvido é armazenado na forma de gordura.”
Da mesma forma, carboidratos, polivitaminas e termogênicos (usados principalmente para a perda de peso) podem trazer complicações ao organismo: “No caso dos carboidratos, eles podem causar desconforto gastrointestinal, além de náuseas e diarreia. A longo prazo, podem desencadear uma resistência insulínica em indivíduos pré-dispostos. Já os polivitamínicos em excesso podem ser tóxicos, além de dificultar a absorção de nutrientes da alimentação. Por sua base ser cafeína, que atua no sistema nervoso central, os termogênicos podem causar taquicardia, alterações na pressão e insônia”.
Por não haver um selo de qualidade para orientar o consumidor sobre a qualidade e a certificação dos suplementos, Letícia reforça que é necessário um acompanhamento das marcas junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
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